Quando leste o título, provavelmente deves ter pensado “mas era só o que me faltava! Agora querem ensina-me a beber!”. Bem, não exactamente. Para começar, já deves saber que beber e degustar cerveja são coisas diferentes, assim como já sabes que o copo influencia na percepção dos aromas e sabores destas belas cervejas que compraste ou recebes em tua subscrição.
Degustar cerveja começa muito antes de chegar até a boca. Para ser mais preciso, algumas pessoas dizem que a degustação começa pelo ouvido. Poucos sons nesse mundo dão uma sensação de alívio ao final de um longo dia de trabalho comparável com a de uma cerveja a ser aberta e servida no copo! E esse “tssss” é também importante para mostrar que a cerveja está carbonatada e própria para o consumo.
A próxima etapa é a avaliação visual, para verificar a formação e a cor da espuma, a cor do líquido e o brilho ou turbidez que ele apresenta. Como já falamos outras vezes, a formação e a durabilidade da espuma dependem do estilo, mas podem ser influenciadas pelo copo e pela forma de servir a cerveja. A cor da cerveja pode variar de amarelo-palha até preto, passando por inúmeros tons de dourado, âmbar, cobre, castanho e marrom. Depende basicamente dos tipos de maltes usados na sua produção. E a cerveja será brilhante, sem turbidez, se tiver sido filtrada.

Em seguida é a vez da avaliação olfativa, possivelmente a parte mais rica da análise sensorial, a ponto de algumas vezes não termos vocabulário para expressar o que estamos sentindo. O aroma da cerveja contribui muito para a sensação que temos de sabor, que, ao contrário do que muita gente pensa, não é sentido apenas na boca (na verdade o sabor é uma combinação dos aromas, gosto e sensação na boca). Os aromas podem lembrar caramelo, pão ou biscoito, tostado, café, podem lembrar especiarias como cravo, noz moscada e coentro, podem trazer notas frutadas ou florais, e também podem trazer notas desagradáveis de off-flavours.
Dar um pequeno giro no copo pode ajudar a volatilizar alguns aromas, e, apesar de o aroma inicial ser o mais rico, também vale a pena dar sempre sentir o cheiro ao longo da degustação, pois conforma a cerveja está a esquentar, o perfil aromático muda.
Por último, é chegada a hora do sacrifício, a avaliação gustativa. Aqui vamos perceber os sabores, que em geral vão ter notas semelhantes àquelas percebidas no aroma, o amargor que é desejável na maioria das cervejas (com exceção, por exemplo, de cervejas mais ácidas, que contrastariam demais), e também as sensação na boca. Tentar sentir o copo da cerveja (a viscosidade do líquido e o “peso” da cerveja sobre a língua), a carbonatação (a sensação “frisante” causada pelo CO2), a adstringência (sensação de língua travada” causada por taninos presentes no lúpulo ou no malte), o teor alcoólico (a sensação de aquecimento) e o aftertaste (sabor percebido na boca logo após engolir, em geral pode ser amargo ou adocicado, dependendo do estilo da cerveja). E ainda tentar perceber se todas essas sensações, sabores e aromas estão em equilíbrio ou se alguma dessas características estão a se destacar (de maneira positiva ou negativa).